Biosfera em Conversa: Fedra Machado, Reserva da Biosfera da Ilha das Flores
O que é, para si, uma Reserva da Biosfera?
Uma reserva da biosfera (RB) é, para mim, um local que tem um “selo de qualidade”. Quando sei que determinado lugar é reserva da biosfera, sei imediatamente que há uma garantia de qualidade, uma garantia de haver um equilíbrio entre o homem, a sua vivência cultural e económica, e a natureza.
Qual é o seu local preferido nesta Reserva da Biosfera e porquê?
É difícil eleger apenas um local, mas, a ter que nomear um, indico a Poça das Salemas, em Santa Cruz das Flores. É uma zona balnear pequena e acolhedora, já tem intervenção humana, na medida em que o acesso é feito por umas escadas de madeira e já não temos que andar a ajeitar o corpo sobre as pedras quando nos deitamos porque já se tratou de arranjar um espaço para esse efeito. Mas o especial desse local é mesmo o encontro do mar com a terra. Como o local não é muito profundo, em dias que o mar está de feição, podemos pensar num qualquer paraíso tropical como um parente pobre. Vê-se o fundo marinho com uma nitidez de cortar a respiração e as cores são deslumbrantes. É o meu local de eleição de verão e para onde vou com a minha filha bebé todos os finais de dia. Já agora, recomendo pesquisarem no Google “Poça das Salemas – Flores”. Bonito, não é? Saibam então que a maioria das imagens é péssima; ao vivo, o lugar é mil vezes mais maravilhoso.
Quais considera serem as mais-valias e os maiores desafios de trabalhar na gestão destes territórios?
Uma das mais-valias de ser um dos gestores de uma RB é a de passar a conhecer ainda melhor o território. Se o objetivo é conservar e sustentavelmente tirar dividendos da riqueza humana e natural da ilha, então é necessário conhecer profundamente a ilha, as suas gentes, os seus serviços, os ecossistemas naturais. Tenho quase 20 anos de vida nas Flores e nunca soube tanto sobre esta ilha como sei agora.
Creio que o maior desafio é o desconhecimento geral acerca do que é ser uma reserva da biosfera. E faço já aqui uma confissão: eu também não sabia ao certo o que era uma RB até vir trabalhar para o Serviço de Ambiente e Alterações Climáticas e assumir o papel de presidente do conselho de gestão da RBIF. Já tinha ouvido falar muito de a ilha ser reserva da biosfera, nomeadamente, cada vez que entrava nos aviões da SATA com destino à ilha. A companhia faz referência ao estatuto da ilha enquanto RB. Mas não sabia bem o que era. E sei que, como eu estava, está o grosso da população florentina. É por isto que está prevista, para este ano, uma apresentação com o objetivo de informar a comunidade sobre o que é ser uma RB e quais as implicações, benefícios e responsabilidade de se ser uma.
Acha que a população residente e visitantes podem ter um papel no trabalho de conservação e sustentabilidade que levam a cabo? Como?
Eu diria até que, se os residentes não desempenharem um papel nesse trabalho de conservação e de sustentabilidade, dificilmente a ilha das Flores se manterá uma RB. Creio que, neste sentido, se impõe fazer um trabalho intensivo ao nível da sensibilização e da informação no que respeita à conservação, à sustentabilidade e ao papel da ilha enquanto RB, começando, talvez, pela escola da ilha. Depois, importa alargar essa ação informativa a outros grupos etários.
Por fim, gostaríamos que partilhasse connosco os projetos e iniciativas, em marcha e de futuro, na sua Reserva da Biosfera. E como os poderemos acompanhar, estejamos por perto ou à distância.
De momento, temos promovido campanhas de sensibilização de lixo marinho; realizámos censos de aves marinhas, comuns e morcegos; temos feito ações de remoção de espécies invasoras; temos abraçado projetos e ações de investigação apoiados e articulados com ações da RB; temos potenciado a atividade piscatória com a pesca-turismo; temos potenciado a atividade de passeios a pé/hiking e mantido os trilhos pedestres existentes; temos realizado reuniões do conselho de gestão da RBIF e sessões de formação/capacitação na RBIF que envolveram atores locais; temos mantido/melhorado espécies e habitats cujo estado de conservação é atualmente desfavorável; temos realizado projetos-chave no âmbito de ações concretas de restauração ecológica de áreas degradadas; temos feito recolha de sementes para o Jardim Botânico do Faial; temos introduzido metodologias de engenharia natural para intervenções associadas à mitigação de riscos, intervenção em arribas, taludes; temos garantido a manutenção de ações de combate à flora invasora; temos realizado da rede regional de RB.
Vai ser possível acompanhar as iniciativas da RBIF através da nossa newsletter, que iremos lançar no final deste mês.